O dia para o qual nunca estamos preparados
Queria escrever-te todas as palavras existentes no mundo.
Mostrar-te tudo aquilo que gostarias de ter visto e nunca tiveste oportunidade.
Hoje deixaste-me de coração destroçado. Sempre te julguei imortal, imune a todas as doenças, ao definhar. Mas ambos sabíamos que não era assim. Tu aceitavas, eu negava-o a mim mesmo.
Viste-me nascer, crescer, tornar-me o homem que sou hoje. Nunca me negaste uma palavra, um conselho, uma reprimenda, dois minutos do teu tempo. És responsável por quem sou e pelo que sou. Ensinaste-me carácter, respeito, humildade e mais importante, identidade. Sermos nós mesmos, dizias tu.
Não gostei da tua voz da última vez que falámos. Achei-a embargada, quase uma despedida precoce. Não estava enganado. Infelizmente.
Hoje deixaste-me. E eu sinto-me morto por dentro, vazio. Não devia. Devia sentir exactamente o contrário. Devia-me sentir uma melhor pessoa por ter tanto de ti em mim.
Foi um privilégio imenso ter sido teu neto. Um orgulho. Foste avó, mãe, confidente, amiga e tudo o mais que esteve ao teu alcance.
Amei-te o mais que pude, amo-te e irei sempre amar-te até ao meu último fôlego.
O Alentejo para mim hoje está de luto. Negro, triste. Os pássaros não chilreiam e as oliveiras não dançam ao sabor do vento em sinal de respeito.